FERROVIA
POR QUE LAGARTO JAMAIS CHEGOU A OUVIR O APITO DO TREM
De como um acontecimento medonho pode ter impedido que a linha férrea fosse instalada em terras de Lagarto e Simão Dias, impossibilitando assim que o desenvolvimento desses dois município fosse fomentado ainda no início da década de 1950
JOSÉ EDUARDO BASTOS
A FERROVIA
NO MUNDO
A ferrovia
foi uma das invenções mais extraordinárias da humanidade. A aplicação da força
expansiva do vapor à máquina móvel que circula sobre caminhos artificiais,
constituído por duas trilhas de ferro, é o ponto de partida para o novo período
da história em que o homem põe a serviço tais elementos, como forças
cooperadoras em suas atividades.
A ferrovia
foi uma criação que proporcionou o avanço econômico e social de vários países
norte-americanos. Alvo de muitas discussões, ela surge na Inglaterra no início
do século XIX, como uma inovação da Revolução Industrial, aguçando a imaginação
e a criação do homem. Sua construção encontrou discursos de progressos
incorporados pelas classes dominantes de vários países, e, antes mesmo de ser
comprovada a sua eficácia na Inglaterra, outros países já faziam projetos
visando sua implantação.
Muitas
regiões desprovidas de meios de transportes fluviais foram beneficiadas com a
instalação das ferrovias, integrando-se a outras localidades, garantindo assim
comunicabilidade maior entre pessoas e comerciantes. Consequentemente, os
lucros nos negócios aumentaram.
E em seu
livro, A Era das Revoluções, Eric J. Hobsbawm diz que “a estrada de ferro,
arrastando sua enorme serpente emplumada de fumaça, à velocidade do vento, através
de países e continentes, com suas obras de engenharia, estações e pontes
formando um conjunto de construções que fazia as pirâmides do Egito e os
aquedutos romanos e até mesmo a Grande Muralha da China empalidecerem de provincianismo, era o próprio símbolo do triunfo do
homem pela tecnologia”.
As potências
mundiais perceberam que a chegada da estrada de ferro era uma possibilidade de
crescimento e expansionismo do seu capital, e que a mesma iria permitir a transposição e o escoamento dos
produtos em maior quantidade e segurança.
A estrada de
ferro ficaria sendo o maravilhoso fator da circulação de riquezas e de convívio
nacionais, e logo se tornaria a vara mágica da transformação da mata solitária
e dos vales esquecidos em vastos campos agrícolas e em portentosas cidades.
(CARVALHO, 1931, p.26).
A FERROVIA
NO BRASIL
O primeiro
incentivo à construção de ferrovias no Brasil se deu em 1828, quando o governo
imperial promulgou a primeira carta de lei incentivando as estradas em geral. A
primeira tentativa de fato de implantação de uma estrada de ferro no Brasil
deu-se com a criação de uma empresa anglo-brasileira no Rio de Janeiro em 1832,
que ligaria a cidade de Porto Feliz ao porto de Santos. Essa ferrovia tinha por
finalidade transportar cargas do interior para o porto e diminuir os custos de
exportação. O governo imperial, no entanto, não apoiou o projeto e ele não foi
levado à diante.
A
inauguração do primeiro trecho Companhia Estrada de Ferro D. Pedro II ocorreu
em 29 de março de 1858, com a ligação de 47,21km da Estação da Corte a Queimados,
no Rio de Janeiro. Mais tarde com a proclamação da república, a ferrovia foi
renomeada para Estrada de Ferro Central do Brasil, que se tornou um dos
principais eixos de desenvolvimento do país ao fazer a conexão de Rio e São
Paulo em 1877, quando a Estrada de Ferro Dom Pedro II se conectou a Estrada de
Ferro São Paulo.
Os primeiros
engenheiros ferroviários a trabalhar no Brasil vieram da Europa, trazendo
consigo o pacote tecnológico, bem como locomotivas, vagões, máquinas,
ferramentas e técnicas. Eles foram enviados pelos investidores estrangeiros
para implantar a ferrovia em nosso País, e tinham, como tarefa principal,
efetuar a locação do traçado da linha.
A CHEGADA DA
FERROVIA EM SERGIPE
Sergipe foi
o último estado a ser contemplado com a implantação da estrada de ferro. Sua
chegada contribuiu para a velocidade de locomoção e de comunicação, modificando
o cotidiano da população, seus hábitos e costumes. Assim, com o avanço
tecnológico e econômico, decorrente dessa nova era, a ferrovia surge como fruto
dessas transformações, visando sanar as dificuldades em se transportar
mercadorias e passageiros, interligando algumas cidades do nosso estado.
Também em
Sergipe, as dificuldades de comunicação marítima eram um entrave para o
escoamento da produção, e um empecilho para que as mercadorias chegassem à
capital em boas condições, ficando o interior a enfrentar os mais sérios
problemas de comunicabilidade - caso os rios não o alcançasse ou a ação do
homem não o integrasse ao mar. Assim, quando a produção para a exportação
definiu a vida econômica da Província, o planejamento e a construção de
estradas, pontes e canais ganharam realce de algo inadiável.
A
precariedade dos meios de transportes era vista assim pelo presidente da
província de Sergipe em 1860: "Quanto as vias de comunicação, temos só
aquelas que nos deu a natureza. E a arte ainda não veio com seus poderes
aperfeiçoar a natureza. Estradas terrestres ainda não existem, os rios são
navegáveis até os pontos em que a natureza os apresenta como tais”.
As péssimas
condições das estradas que ligava o interior ao litoral – que possuíam em quase
todas suas extensões 18 palmos de largura - também contribuíam para que as
mercadorias não chegassem no horário de embarcar. Este fato trazia ainda
enormes prejuízos ao comércio geral, além de fazer com que os navios
retardassem em até um mês ou mais sua saída, causando danos aos produtos e,
consequentemente, provocando aumento dos fretes.
Um morador
de Aracaju, à época em que Sergipe ainda não contava com nenhum trecho de
estrada de ferro, assim se expressou: “... faz lástima ver o que sofrem os
nossos munícipes lavradores para trazerem aos trapiches e ao mercado desta
cidade os seus produtos no tempo invernoso. Eles pagam pesadas contribuições à
Fazenda Pública. Pelo açúcar pagam 5 por cento a Provincial e 7 por cento a
Geral. Entretanto, seus carros e seus animais não estão imunes às grandes
dificuldades que ordinariamente encontram nas estradas, quando deviam se julgar
salvos delas, por se encontrarem tão próximos da cidade”.
Inicialmente
chamado de ramal de Timbó, a linha que ligaria a estação de São Francisco, em
Alagoinhas, a Sergipe foi aberta em 1887 até a localidade de Timbó, atual
Esplanada. Dali para a frente foi sendo prolongada aos poucos a partir de 1908,
atingindo Aracaju em 1913, Cedro de São João em 1915 e Propriá somente em 1956,
às margens do rio São Francisco.
O
estabelecimento de estrada de ferro em Sergipe, além de ser de grande interesse
nacional, proporcionou desenvolvimento material, econômico, social e moral, facilitando
a comunicação e a ligação do Estado a outras cidades, estados e pessoas,
favorecendo desta forma a comercialização e exportação do açúcar, café e
algodão - entre outros produtos manufaturados cultivados na Província.
A TENTATIVA DE IMPLANTAÇÃO DA LINHA FÉRREA EM LAGARTO
A Companhia Hidro Elétrica do São Francisco - Chesf - iniciou a construção de suas usinas em Paulo Afonso no ano de 1949. Com isso, todo o complexo acabou gerando demandas por materiais de pequeno e médio porte, indispensáveis ao erguimento das primeiras edificações. Grande quantidade de materiais de pequeno porte foi transportada em caminhões, mas a demora na entrega e o custo elevado por esse serviço fizeram com que se pensasse na viabilização de um meio que garantisse maior rapidez no deslocamento das turbinas de origem alemã – consideradas peças fundamentais para a montagem – até a hidrelétrica em questão.
A Companhia Hidro Elétrica do São Francisco - Chesf - iniciou a construção de suas usinas em Paulo Afonso no ano de 1949. Com isso, todo o complexo acabou gerando demandas por materiais de pequeno e médio porte, indispensáveis ao erguimento das primeiras edificações. Grande quantidade de materiais de pequeno porte foi transportada em caminhões, mas a demora na entrega e o custo elevado por esse serviço fizeram com que se pensasse na viabilização de um meio que garantisse maior rapidez no deslocamento das turbinas de origem alemã – consideradas peças fundamentais para a montagem – até a hidrelétrica em questão.
Tais
fatores convergiram, contribuindo para que se colocasse em prática o projeto da
construção da estrada de ferro que passaria pelos municípios sergipanos de
Lagarto e Simão Dias. Sendo assim, dia 10 de outubro de 1950 o presidente da
República sancionou, e dia 12 do mesmo mês e ano o Diário Oficial da União
publicou o decreto do projeto e orçamento para a construção do trecho da
ferrovia que passaria pelo município de Lagarto:
DECRETO
N.° 28.738 - DE 10 DE OUTUBRO DE 1950
Aprova
projetos e orçamentos para construção de dois trechos da ligação ferroviária
Salgado - Lagarto - Simão Dias - Paripiranga - Jeremoabo - Paulo Afonso.
O
Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere o artigo 87, n.°
I, da Constituição, decreta:
Artigo
único. Ficam aprovados os projetos e orçamentos na importância total de Cr$
86.867.059,00 (oitenta e seis milhões, oitocentos e sessenta e sete mil e
cinqüenta e nove cruzeiros), os quais com êste baixam, devidamente rubricados,
relativos à construção dos seguintes trechos da ligação ferroviária Salgado -
Lagarto - Simão Dias - Paripiranga - Jeremoabo - Paulo Afonso:
a)
1.° trecho com a extensão de 77,995 km - Cr$ 70.391.417,60
b)
2.° trecho com a extensão de 20,260 km - Cr$ 16. 475.581,40
Total: Cr$ 86.867.059,00
correndo
as despesas respectivas, no presente exercido, até o limite de Cr$
12.000.000,00 (doze milhões de cruzeiros) à conta da dotação constante do Anexo
25, Verba 4, Consignação III, Subconsignação 06-31-01m), do Orçamento Geral da
República e, nos exercidos vindouros, pelos recursos que forem destinados à
mencionada ligação ferroviária.
Rio
de Janeiro, 10 de outubro de 1950; 129.° da Independência e 62.° da República.
EURICO G. DUTRA.
João Valdetaro de Amorim e
Mello.
Para a
construção do terceiro trecho da ferrovia, dois meses depois o mesmo Presidente
sanciona um novo Decreto:
DECRETO
N.° 29.014, - DE 21 DE DEZEMBRO DE 1950
Aprova
projeto e orçamento para construção do terceiro trecho da ligação ferroviária
Salgado-Lagarto-Simão Dias-Paripiranga-Jeremoabo-Paulo Afonso.'
O
Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere o artigo 87,
número I,. da Constituição, decreta:
Artigo
único. Ficam aprovados o projeto e orçamento na importância de Cr$ 14.924
226,20 (quatorze milhões novecentos e vinte e quatro mil duzentos e vinte e
seis cruzeiros e vinte centavos), os quais com este baixam, devidamente
rubricados, relativos à construção do terceiro trecho, na extensão de 24.240
quilômetros, da ligação ferroviária Salgado-Lagarto - Simão Dias -
Paripiranga-Jeremoabo- Paulo Afonso correndo as despesas respectivas, no
presente exercido, até o limite de Cr$ 12.000.000.00 (doze milhões de
cruzeiros). à conta da dotação constante do Anexo 25. Verba 4 Consignação M.
Subconsignação 06-03-01m), do Orçamento Geral da República e, nos exercidos
vindouros, pelos recursos que forem destinados à mencionada ligação
ferroviária.
Rio
de Janeiro. 21 de dezembro de 1950; 129.° da Independência e 62° da República.
EURICO G. DUTRA.
Num
segundo momento uma grande área de terra foi desapropriada para abrir passassem
aos trilhos que trariam consigo trabalho e outras fontes de riqueza para a
região, O Decreto que viabilizaria a desapropriação de terras, em toda a
extensão por onde a ferrovia iria passar, foi sancionado dessa vez pelo
presidente Getúlio Vargas, e continha a seguinte redação:
DECRETO
N° 30.031 - DE 1 DE OUTUBRO DE 1951
Declara
de utilidade pública, para fins de desapropriação. áreas necessárias à construção
ferroviária.
O
Presidente da República, usando da Lia atribuição que lhe confere o artigo 87,
n.° I, da Constituição, e nos termos do Decreto-lei n.° 3.365, de 21 de junho
de 1941, modificado pelos Decretos-leis n.° 4.152, de 5 de março de 1942 e de 9
de setembro de 1946, decreta:
Art.
1.° São declaradas de utilidade pública, para efeito de desapropriação, as
áreas necessárias à ligação ferroviária Salgado-Lagarto-Simão Dias-Paripiranga-Joremoabo-Paulo
Afonso, e compreendidas entre as estacas 5.305 e 6.305, da Viação Férrea
Federal Leste Brasileiro, cujos projeto e orçamento foram aprovados pelo
Decreto n.° 20.030, de 1 de outubro de 1951.
Art.
2.° Este Decreto entrará em vigor na data da sua publicação.
Art.
3.° Revogam-se as disposições em
contrário.
Rio
do Janeiro, 1 de outubro de 1951- 130° da Independência e 63° da República.
GETÚLIO VARGAS.
Alvaro de Souza Lima
Grande quantidade de homens foi mobilizada
para construir pontes, recorta e aplanar as áreas por onde passaria a linha de
ferro. Além das inúmeras casas construídas em lagarto para abrigar os
trabalhadores que vieram de outras localidades, foram erguidos ainda um
almoxarifado, uma casa para engenharia e empreiteira, uma estação para parada
do trem, e ainda uma outra casa, destinada a abrigar o serviço de comunicação
por telégrafo.
As
moradias para os trabalhadores das companhias responsáveis pela instalação das
linhas de trens em nosso país, nas décadas de 40/50, surgiam concomitantemente
à implantação da malha ferroviária, com a finalidade de dar suporte ao
funcionamento e à manutenção das linhas. A quantidade de residências nas vilas
ferroviárias era definida em função da complexidade dos serviços realizados. Em
locais mais simples eram construídas pelo menos três habitações – as chamadas
casas de turmas -, enquanto nos entroncamentos e nos trechos mais movimentados
eram implantados conjuntos residenciais maiores.
No inicio da década de 1959 as
obras para a implantação dos trechos ferroviários em terras de Lagarto e Simão
Dias estavam a todo vapor. As empresas contratadas pela Leste Brasileira
seguiam à risca seus cronogramas de trabalho, quando uma grande explosão acabou
por trazer transtornos a todos os envolvidos naquela empreitada. Na medida que
nos foram legados poucos registros dos fatos, o resgate dessa história só é
possível a partir do momento que damos voz a homens e mulheres que viviam à
época e que retiveram o episódio aqui retratado em sua memória.
O TESTEMUNHO DE QUEM VIVIA À ÉPOCA
Na época em que a Aviação Férrea Federal Leste Brasileira se
instalou em Lagarto para executar os serviços do trecho da ferrovia que
atravessaria nosso município, nossa avó, dona Josefa (92 anos), residia em
companhia do marido e da primeira filha do casal, no final da Rua de
Laranjeiras.
Nesse mesmo período, o muribequense José Alves chegava a
Lagarto para trabalhar como supervisor do trecho da linha de ferro que cortaria
nosso município. Zé Alves, como era conhecido, era um rapaz moreno, alto e
simpático. No dia a dia, Zé Alves costumava ir com amigos ao povoado Coqueiro,
onde nossa avó residia com sua família. Ali o engenheiro da Leste conheceu a irmã
de minha avó, Marizete. Ele se engraçou pela moça, os dois logo começaram a
namorar, antes de três meses noivaram... e com mais três meses se casaram. Logo
após contrair núpcias, o casal foi residir próximo onde fora montado o canteiro
de obra da estrada de ferro.
Minha avó, dona Josefa, estava no sítio do pai quando ouviu a explosão no paiol da Leste |
As obras do trecho da ferrovia que passaria pelo município
de Lagarto avançavam rapidamente, concentrando um número cada vez maior de
operários na sua construção, quando um acidente ocorrido em um dos paios – e
local em que se armazenavam dinamites – parece ter concorrido para que em breve
o projeto fosse paralisado e abandonado de uma vez por todas.
O relato de nossa avó dá conta que a explosão no paiol de
dinamite da Leste aconteceu na tarde de uma Sexta-feira da Paixão. Muitas casas
da cidade se encontravam vazias; as pessoas aproveitavam o feriado para visitar
seus familiares em outras localidades, e muitos devotos estavam a caminho da
procissão. Logo nas primeiras horas da manhã desse dia, meu avô reuniu sua
família, e todos foram passar o dia santo no sitio do seu sogro – que residia
no povoado Coqueiro, distante cerca de 5 km da cidade. Lá já se encontrava Marizete
- irmã de nossa avó –, acompanhada do seu marido, Zé Alves. O resto da manhã
correu tranquilo, mas entre as 14h e 15h um estrondo assombrou a todos e espalhou
o medo no seio da reunião familiar.
Ao relembrar o fato, dona Josefa diz que, quando se deu a
explosão em um dos paióis da Leste instalada em lagarto, uma grande língua de
fogo subiu no céu, seguida de uma nuvem negra de fumaça. A terra tremeu aos pés
dos lagartenses residentes não apenas na cidade, mas também na maioria dos
povoados (a explosão foi sentida também em Simão Dias – cidade que dista 27 km
da nossa). Tudo voou pelos ares; inúmeras peças foram encontradas dias depois
em localidades distantes. Onde as dinamites explodiram, uma cratera de muitos
diâmetros se abriu, “engolindo” tudo que se encontrava ao redor. Antes que o
fogo que se seguiu à explosão se espalhasse, os moradores se apressaram em
salvar o que era possível, transportando tudo para as casas que ofereciam
condições de abrigo – muitas das casas não garantiam acesso sequer a seus
donos, pois o impacto da explosão fora tão forte que trincou paredes e encadeou
portas e janelas, impedido a abertura normal das mesmas.
No sítio do pai de vovó o almoço da Sexta-feira Santa já
tinha acabado fazia mais de uma hora. Os presentes haviam se dispersado pelos
diversos cômodos da casa – alguns para fazer a sesta, e outros para se reunir
aos donos da casa e colocar o papo em dia. Passava das 14h quando todos ouviram
e sentiram a explosão. Instantes após confirmar suas suspeitas de que o barulho
medonho viera da direção do Campo da Vila – local que concentrava o canteiro de
obras Leste -, Zé Alves subiu numa mangueira, e, do alto dessa árvore, o supervisor
da Leste Brasileira pôde formular suas primeiras impressões do ocorrido.
Horas depois, quando finalmente se fez presente no cenário da
destruição, Zé Alves passou a assistir chocado o vai-e-vem de crianças, jovens
e adultos apressados em salvar qualquer coisa de valor que tivesse escapado do
soterramento e do fogo. Não obstante a dor e a tristeza estampadas no semblante
de cada morador do local, Zé Alves não teve noticias de morte. Contaram-lhe
apenas o drama de uma senhora, de nome dona Sinhazinha, que possivelmente
ficaria paralítica, já que, no momento da explosão, a mesma fora atingida
violentamente na perna por um fio desencapado que se partiu da rede elétrica
que conduzia a energia dos geradores da Leste.
A tragédia que se abateu àquela tarde de sexta-feira santa sobre
o Campo da Vila causou consternação, espalhou a tristeza entre todos, mas foi
incapaz de inibir a ação dos aproveitadores de plantão. Mal a poeira assentou
em torno do local do paiol que explodiu, o saque coletivo teve início, com indivíduos
procedentes de outras áreas da cidade chegando em caminhões, e só saído dali
com as carrocerias superlotadas de tudo que encontravam nos escombros.
A caça ao culpado pela explosão do paiol da Leste teve início
horas depois da tragédia. Cogitou-se desde o primeiro momento que a detonação
das dinamites poderia ter sido provocada pela movimentação de ratos no interior
do paiol (a cada dia os roedores proliferavam em maior número dentro do depósito
onde ficavam as dinamites, e o transitar deles naquele lugar poderia ter
provocado a queda de um objeto capaz de produzir a fagulha que atingiu o pavio
do primeiro explosivo). Mas dona Josefa recorda que, na época, circulou a
notícias de que dois suspeitos chagaram a ser presos, foram interrogados e
liberados logo em seguida - na tomada dos depoimentos, a polícia não conseguiu
colher provas capazes de produzir a condenação daqueles acusados.
O professor Emerson Carvalho ainda era menino quando houve a explosão |
Seu Antônio ouviu o estrondo e viu uma grande nuvem de fumaça |
Em 1952, seu Antônio ainda residia no povoado em que nasceu,
mas passava a maior parte do tempo na sede do município, já que seu dia era
dedicado ao trabalho nas obras do telhado do prédio onde funcionaria o Cine
Glória. Na tarde em que houve a explosão em um dos paióis da Leste de Lagarto, seu
Antônio se encontrava em Cajazeira (distante 18 km da sede do município),
aproveitando o feriado da Sexta-feira Santa para visitar parentes e amigos.
Segundos depois da explosão das dinamites no paiol da Leste de Lagarto, seu Antônio
ouviu o estrondo e viu uma grande nuvem de fumaça subir na direção da cidade (e
pelo que ele ficaria sabendo depois, até mesmo em Paripiranga – município
baiano que fica a 36 km de lagarto – se ouviu a explosão e se sentiu seus
efeitos). De onde se encontrava, seu Antônio pressentiu que algo muito grave
tinha acontecido; chegando à cidade ele se deparou com o alvoroço. Logo após
aquele acontecimento que abalou a todos, comentários surgiram, dando conta que,
por se tratar de um dia em que se observava um feriado santo, àquele dia
somente o vigia era quem se encontrava nas imediações do barracão da leste.
Logo após o ocorrido ele foi preso, conduzido à Aracaju e só depois de muito
sofrimento é que ganhou a liberdade.
Ao falar sobre o fato 61 anos depois, seu Antônio da
Cajazeira diz que a explosão arregaçou carros e ferros, fazendo um grande
buraco no chão. Boa parte da ferragem amontoado no terreno acabou sendo lançada
pela explosão, e foi encontrada depois, enrolada nos pés de coqueiros. Muita
gente, como Antônio Miguel, perdeu seu veículo. O impacto da explosão foi tão
forte que casas estouraram, os vidros da igreja estilhaçaram e os alumínios expostos
nas prateleiras das lojas foram parar no chão.
Ao buscar na memória lembranças do tempo em que os trilhos
ameaçavam se estender por terras lagartense, seu Antônio diz que em nossa
cidade já tinha um cinema – o São João; um novo cinema estava sendo construído
– aquele que viria a ser o Cine Gloria, e que funcionaria por muitos anos no
local onde hoje (2013) está instalado o Bradesco; o número de veículos na
cidade era pouco – e o modelo da moda era o sincachambó –; só quem possuía
automóvel eram pessoas como Almeidinha, Zé Carlos, Pedrito de Batalha...; as
ruas estreitas da nossa cidade viviam tomadas por cavalos, carroças e
carros-de-bois. Seu Antônio prossegue seu relato dizendo que, com o início da
construção da ferrovia, passaram a transitar pelas ruas de paralelepípedos de
Lagarto máquinas pesadas, como a D8 (D8 são tratores de esteira de grande
porte, que trafegavam por nossas ruas fazendo muito barulho e alvoroçando as
pessoas, porque na época não havia estrada de rodagem que permitisse essas
máquinas atingirem o canteiro da Leste trafegando através do entorno da
cidade).
A terra abalou sob os pés de Piaba |
Piaba afirma que o fogo gerado pela explosão atingiu grande número de casa, uma
vez que quase todas eram cobertas por palhas de coqueiro. À época, Lagarto era
uma cidade muito pequena, e contava apenas com dois automóveis: um de
propriedade de um senhor de nome Heraque; e um outro, pertencente ao pai de
Tonho de Zé do Arroz. Piaba conclui sua fala dizendo que as únicas pessoas de
posses na época eram homens como Antônio Martins, Acrísio Garcez e Dioníso
Machado.
Quando as autoridades decidiram que as obras da rede
ferroviária que passaria por Lagarto e Simão Dias deveriam ser paralisadas em
definitivo, as turbinas necessárias ao funcionamento da Usina Hidrelétrica de
Paulo Afonso passaram a ser transportadas em carretas – veículos importados
pelo Brasil da Alemanha para garantir que o transporte dessa carga pesada se realizasse
a contento, sem prejuízos para a continuidade da obra.
Em Lagarto o abandono das obras da ferrovia foi seguido da
decisão do governo em promover a devolução das terras para os antigos donos. As
construções existentes - e que já estavam prontas, mas sem qualquer perspectiva
de uso – acabaram sendo ocupadas pelos ex-operários da Leste (que ficaram ser
ter para onde ir, e que decidiram fixar residência no local onde antes
labutavam diariamente).
A população operária que permaneceu em Lagarto, mesmo com o
fim dos Trabalhos da Leste nesse município, deu início à formação do bairro que
ficaria conhecido por Estação. Aos poucos, novas casas foram sendo construídas
no local, com as pessoas tirando proveito de não terem que pagar pelo terreno,
uma vez que erguiam suas residências em terrenos abandonados.
O Bairro Estação também era conhecido como Corte (devido a
aberturas feitas nas rochas, e que eram resultado de explosões planejadas de
dinamites). Sua população sempre foi formada por famílias com baixo poder
aquisitivo, e que ergueram suas moradias recorrendo a tijolos de barro, fabricados
pela própria comunidade.
No Bairro Estação, problemas como falta de água, de energia
elétrica, e de saneamento sempre atormentaram a população. Somente em anos mais
recentes é que a comunidade que ali reside veio a ser contemplada com a
ampliação e pavimentação da rua principal, instalação de um chafariz,
construção de uma lavanderia e doação de terrenos para famílias que
necessitavam de um teto para morar.
Em 1998 a Câmara de Vereadores do Município de Lagarto
aprovou, e o chefe do executivo sancionou a lei delimitadora dos bairros da
cidade. Por essa Lei a Estação perdeu o status de bairro, e sua rua antiga rua
principal - atualmente conhecida como Beco da Estação - se transformou
numa linha que delimita dos bairros da cidade: Novo Horizonte e Ademar de
Carvalho.
MARCOS DA TENTATIVA DE IMPLANTAÇÃO DA FERROVIA EM LAGARTO E SIMÃO DIAS
Mais de seis décadas transcorreram desde o
acontecimento que provavelmente se constituiu no principal motivo para o abandono
da construção do trecho da estrada de ferro que passaria por terras de Lagarto.
Ao longo desse período, nossa cidade e nosso município passaram por profundas e
importantes transformações, decorrentes principalmente do crescimento
econômico, do aumento populacional, da construção de residências, prédios, estradas,
rodovias, ruas, avenidas e conjuntos habitacionais. Tudo isso resultou em
mudanças profundas nos locais que abriga as estruturas que dariam suporte aos
trabalhos de implantação dos trilhos ferroviários em nosso município.
Em 2013, ano em que teve início essa pesquisa, deparamo-nos com uma séria de obras que chegaram a ser realizadas pelos garimpeiros a serviço da Leste não apenas em Lagarto, mas também em municípios circunvizinhos - como Simão Dias e Salgado. Seguindo indicações de amigos e orientações de pessoas que íamos interrogando, chegamos a locais que ainda concentram parte importante da estrutura construída para dar suporte à instalação dos trilhos em terras dos municípios de Lagarto e Simão Dias. A maioria das construções é formada por pontes sobre rios e riachos, por túneis e ...Claro que toda essa estrutura, localizada em sua totalidade em sítios e fazendas, se deteriora dia a dia - devido à ação do tempo - e tem servido mesmo é de abrigo para aves, cobras, lagartos e outros animais existentes na região. Não obstante os anos passados desde o abandono dessas construções, deparamo-nos com pontes e túneis que impressionam pela engenharia empregada, ou ainda devido à resistência às intempéries.
Hoje, essa trilha de terra batida aberta no meio da mata é utilizada principalmente nos finais de semana, quando os criadores de cavalos da região se reúnem, e aproveitam o caminho plano e linheiro para promover corridas entre seus animais.
Duas outras estruturas abandonadas pela Leste em nossas terras estão localizadas às margens da Rodovia Lourival Batista/SE-270, entre os municípios de Lagarto e Simão Dias, na altura do inicio da estrada que dá acesso ao povoado Olhos D’água. A poucos metros do acostamento da SE-270, duas estruturas semelhantes a muretas – uma paralela à outra e construídas com blocos de pedras e cimento – despontam no meio do matagal, no mesmo nível da pista asfáltica. Esse amontoado de pedras se integra com tanta propriedade à paisagem do lugar, que é fácil imaginar que ele jamais chama a atenção daqueles que pela rodovia trafegam. Certamente,a colocação das muretas nesse local obedeceu à necessidade de se compensar o declívio do terreno que se estende até a ponte ferroviária construída logo à frente.
Sempre que chegamos ou saímos da cidade de Simão
Dias, trafegando pela Rodovia Lourival Batista/SE-270, deparamo-nos com uma
fazenda cercada de eucaliptos, que fica a poucos quilômetros de distância da
terra dos capa-bodes, e que é de propriedade da viúva do fundador da empresa G’Barbosa. Além da casa grande que se
destaca na paisagem, o conjunto restante é formado por uma capela, por
residências menores, por garagens e galpões. À frente dessa fazenda, do outro
lado da SE-270, um outro terreno de vegetação rasteira, onde cavalos, bois e
cabras pastam tranquilamente. Nesse local encontramos a estrutura de uma ponte,
também construída pelos trabalhadores da empresa contratada pela Leste no
início da década de 1950, e que sobressai no terreno. Logo à frente, uma trilha
aberta no pasto conduz a um túnel escavado na rocha, que se estende por alguns
metros por entre o sopé da montanha em direção à Simão Dias. Essas obras
deixadas pela Leste em território simão-diense foram paralisadas concomitante à
interrupção da construção do trecho ferroviário no município de Lagarto. Quando
os trabalhadores contratados pela Leste foram dispensados de seus postos de
trabalho por aqui, quilômetros e quilômetros de trilhos e dormentes foram
deixados para trás, abandonados no meio de sítios e fazendas, nas terras que se
estendem até Lagarto. Na medida que o tempo passou, e os agricultores da região
perceberam que o projeto de construção da ferrovia não mais seria retomado,
trilhos e dormentes passaram a ser arrancados para servirem de utensílio nas
casas de farinhas espalhadas por povoados lagartense.
Um marco importante dos trabalhos realizados para
garantir a passagem de trem em terras simão-dienses nos foi apresentado do topo
da Serra do Cabral, por nosso amigo José Santana Curvelo. Lá do alto nos foi
explicado que uma trilha de mata verde – que passa no pé da serra, que se
destaca na paisagem seca da vegetação rasteira, que atravessa toda a extensão
do território dos capa-bodes, e que só se perde de nossas vistas quando se
aproxima da divisa entre Sergipe e Bahia – foi aberta por uma das empresas a
serviço da Leste para permitir que o trem por ali passasse, transportando a
tecnologia que Paulo Afonso demandava para posteriormente ofertar a energia
elétrica que o nordeste necessitava para fomentar seu desenvolvimento.
Contemplada do alto, essa linha de mata verde parece serpentear nas curvas do
sopé da montanha, aproveitando-se dos nutrientes que a chuva carrega serra
abaixo para se destacar da vegetação nativa durante o ano inteiro.
Para ampliarmos ainda mais nosso campo de pesquisa, eu e os amigos Irineu Roberto de Oliveira e Floriano Fonseca nos dirigimos para uma região mais ao leste do nosso município, precisamente a uma localidade de nome Timbales, que fica entre os povoados Açu Velho, Juerana, Taboca e Açuzinho. Ao lado de uma estrada que passa por esse lugar, a Companhia Leste deixou quase concluída mais uma ponte. Trata-se de uma obra de grande porte, medindo aproximadamente vinte metros de comprimento por doze de largura, encimada por espessa camada de cimento e pedras. Toda essa estrutura fica no mesmo nível da estrada que a ladeia pelo poente; do lado oposto, duas pilastras se elevam acima – uma sobreposta à outra - formando uma pequena arquibancada, além de proteção segura contra cheias ocasionais do riacho lodacento que passa sob a ponte. A exata noção da solidez dessa obra nos é dada quando descemos por uma de suas laterais e alcançamos o arco que se estende de um lado a outro, formando um conjunto de pedra e concreto, em acabamento caprichoso. Ao lado do riacho é possível contemplarmos toda a extensão do túnel, e até lamentarmos o fato de tanto dinheiro público ter sido gasto numa obra que sequer chegou a ser inaugurada.
As onze casas estão localizadas a cerca de quinhentos metros da rodovia que liga Lagarto a Campo do Brito. O acesso a essas casas – que lembram uma vila operária – se dá por uma estrada estreita - também de nome Onze Casas – e que conduz ao povoado Limoeiro. No início da década de cinquenta, trabalhadores da Leste habitavam essas casas – em fotos da época, pode-se observar que os tijolos dessas residências não possuíam reboco e que elas obedeciam a desenho arquitetônico semelhante. Imagens recentes denunciam que algumas chegaram a ganhar reboco e até mesmo pinturas em tons fortes, mas que continuaram cercadas de mato e sem saneamento. Hoje, tais residências figuram como o retrato fiel do descaso e abandono, denunciando na aparência que jamais chegaram a merecer a atenção do poder público. Nas vezes em que lá estivemos verificamos que elas abrigam uma população carente, que vive basicamente de aposentadorias, dos programas sociais do governo e de donativos - que lhe chegam pelas mãos de grupos religiosos, que a elegem como alvo da caridade cristã nas datas mais significativas. As crianças que ali residem brincam no meio do mato – que se estende irregular pelo terreiro em frente às casas até a beira da estrada -, correndo o risco de serem mordidas por uma cobra ou serem contaminadas nas águas dos esgotos que correm a céu aberto. Nos contatos que mantivemos com os moradores das onze casas, foi possível deduzir que as residências costumam ser adquiridas através de compras diretas ou de trocas, em transações que nem sempre obedecem a trâmites legais – e isso talvez explique porquê sempre somos recebidos ali com desconfiança. Que a situação dos moradores das onze casas esteja regular ou não, pouco importa. Fundamental é compreendermos que as benfeitorias feitas pelos moradores dessas casas – por mais básicas que sejam – se constituem em iniciativas únicas e importantíssimas, haja vista que são elas que garantem esse marco histórico ainda estar de pé.
CONCLUSÃO
Não é possível afirmarmos que apenas a
explosão das dinamites no paiol da empresa instalada em Lagarto tenha sido o
acontecimento que determinou o abandono do projeto de implantação da linha
férrea em nosso município. Pessoas que entrevistamos foram enfáticas, ao
afirmarem que os garimpeiros da Leste prosseguiram trabalhando para as bandas
de Simão Dias por pelo menos mais três anos. A explosão em Lagarto coincidiu
com uma conjuntura internacional singular. Nesse momento, a indústria
automobilística ganhava força nos Estados Unidos da América, e já se lançava ao
projeto de ganhar novos mercados, principalmente na América do Sul. Aliado a
isso, havia ainda o interesse da indústria de pneus estadunidense em escoar sua
produção para países como o Brasil. Era preciso, portanto, se inverter
prioridades, para que fosse possível se investir na construção de estradas, em
detrimento de ferrovias. Hoje, não há como ignorar que esse cenário econômico
norte-americano do início da década de 1950 foi decisivo, e provavelmente se
transformou no fiel da balança, no momento em que o governo teve que decidir
pelo abandono dos trabalhos ferroviários em Lagarto.
Os registros históricos que nos foi
legado mostram que os municípios e cidades por onde as ferrovias passaram, nas
décadas de 1940 e 1950, logo experimentaram grande desenvolvimento. Em Sergipe,
estradas esburacadas e perigosas se constituíam em únicas alternativas para
escoamentos de produtos e deslocamentos de pessoas até a capital. Arriscava-se
a vida em viagens que duravam três vezes mais que nos tempos atuais (enquanto
hoje perfazemos os 76 km que separa Lagarto a Aracaju em pouco mais de uma
hora, em 1950 essa mesma distância era percorrida em cerca de três horas).
Grande parte das mercadorias embarcadas no interior com destino à capital
acabava ficando pelo caminho. A má conservação das estradas fazia com que boa
parte da carga escorresse pelas fendas das carrocerias estragadas dos caminhões
– o que implicava diminuição nos lucros dos produtores. O trem representava o
meio seguro para o transporte, e era também a garantia de menos perdas nas
transações comerciais realizadas entre municípios.
Se tomarmos como referências cidades
brasileiras e de outros países, é possível especularmos sobre o que poderia ter
acontecido com o município de lagarto e nossa cidade, caso o trem tivesse
passado por aqui. Certamente, a terra de Silvio Romero e Laudelino Freire teria
uma configuração geográfica diferente da que tem hoje. A cidade teria se
expandido principalmente para a região que compreende os bairros Novo Horizonte e Ademar de Carvalho. Um comércio forte teria se
formado nas cercanias da estação ferroviária. É possível que um intercâmbio
econômico promissor tivesse se estabelecido entre Lagarto e Aracaju, assim como
entre Lagarto e outros municípios sergipanos e baianos - contribuindo para que
um volume maior de recursos passasse a circular por aqui, aquecendo assim nossa
economia. A população de nossa cidade teria aumentado além do seu ritmo normal,
à medida que a ferrovia acenasse com novas oportunidades de negócios e
empregos. É provável que o município de Lagarto estivesse experimentando um
outro patamar de desenvolvimento – superior ao de hoje. Claro que isso
representaria também o incômodo de estarmos convivendo com todas aquelas
mazelas sociais típicas de crescimentos urbanos rápidos e desordenados. Mas,
não tem como deixar de reconhecer que teria sido uma experiência excitante para
o lagartense ver o progresso chegar a cada dia na terra dos papa-jacas, no
ritmo lento mas seguro do apito do trem.
Lagarto(SE), 1º de agosto de 2014
HOBSBAWN, Eric J. A Era das Revoluções, 1789-1848. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977.
Lagarto(SE), 1º de agosto de 2014
Bibliografia:
HOBSBAWN, Eric J. A Era das Revoluções, 1789-1848. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977.
OLIVEIRA Melo, Givanete. Bairro
Estação: Real e Imaginário. 1º Edição. São Cristóvão: UFS. 1999. 13p.
SANTOS Rosário, Gilvânia. Memória
Sobre a F Sobre a Ferrovia de Salgado. 1º Edição. Lagarto: Fjav. 2009. 54p.
CARVALHO. Austriciliano Honório de. O
Ferroviário. Jornal do Comércio. Rio de Janeiro. 1031.
DANTAS, Iberê. História de
Sergipe: República (1889 a 2000). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2004.
BRASIL. Decreto N.° 28.738 - DE 10 DE OUTUBRO DE 1950.
BRASIL. Decreto N.° 29.014, - DE 21 DE DEZEMBRO DE 1950.
BRASIL. Decreto N° 30.031 - DE 1 DE OUTUBRO DE 1951.
Agradecimentos:
José Santana Curvelo; Irineu Roberto de Oliveira; Paulo Oliveira de Santana; Ademir Francisco de Oliveira; Floriano Fonseca;Tsunami; Marcos Rocha; Marcos Prata; Reinaldo Prata; Edvanio de Jesus Nascimento.
Fotos:
José Eduardo Bastos; Floriano Fonseca; José Santana Curvelo; Irineu Roberto de Oliveira; Marcos Rocha.
Meus agradecimentos especiais às
pessoas que aceitaram enriquecer meu trabalho com seus depoimentos:
Josefa Batista de Santana (Dona. Zefinha); Antônio Oliveira; Emerson da Silva Carvalho; José Graciano dos Santos (Piaba).