O quê fazer?
Em nome do progresso a qualquer custo, os dirigentes dos países desenvolvidos sempre assumiram uma postura de conivência diante de empresas e outros agentes agressores da natureza. A conseqüência desse investida indiscriminada e permitida contra os recursos naturais se traduziu em rios poluídos e ar irrespirável.
Percebe-se que nos últimos anos a natureza tem vindo à forra, provocando mais cheias, furacões, ciclones, maremotos, deslizamentos de terra e outros fenômenos igualmente traumáticos à humanidade.
Acossados por crescente clamor popular, os grandes líderes se esforçam para encontrar uma saída capaz de acalmar os ânimos dos seus cidadãos descontentes. E a saída mais cômoda parece ter sido a de criar um novo discurso, segundo o qual a floresta amazônica é a salvação do mundo. E, ao transformar essa “grande descoberta” em ideologia, os dirigentes dos países desenvolvidos buscam formar uma grande cadeia de aliados, que os ajude a difundir não apenas a idéia da importância da preservação da floresta amazônica, mas também a proposta de permitir que os recursos naturais dessa região possam ser administrados e explorados por outros países.
É evidente que por trás desse discurso aparentemente ecológico de figuras como Bill Clinton, Henri Kissinger, Mikhail Gorbachov, Francois Mitterrand, etc., se escondem, mais que tudo, interesses de natureza econômicos. Trabalhos científicos - divulgados recentemente em publicações especializadas -, insinuam que na floresta amazônica se encontram as plantas que podem servir como matéria prima para produzir os remédios que vão ser usados para por fim em doenças como o câncer e a Aids.
Fica claro, portanto, que a grande preocupação dos que defendem a internacionalização da Amazônia não é apenas porque os brasileiros estão queimando a maior floresta tropical do mundo, nem apenas porque isso pode significar um aumento do gás carbônico lançado todo ano na atmosfera, ou porque isso representa ainda a diminuição da camada de ozônio que protege a terra. O grande objetivo desse pessoal é criar um clima favorável lá fora – e até mesmo aqui dentro –, para que amanhã eles venham a se impor como administradores dos recursos naturais aqui existentes (principalmente como gerenciadores da divisão do bolo formando pela comercialização de nossa matéria prima), sem encontrar qualquer tipo de resistência interna, ou sem se preocupar em serem molestados por críticas vindas da comunidade internacional.
A tendência é essa guerra ideológica contra o Brasil se intensificar cada vez mais. Fazer a caveira do nosso país parece ser a forma que os Estados Unidos encontraram para transformar a opinião pública em sua aliada em potencial.
Mas afinal, os norte-americanos não são craques em criar aliados para apoiá-los, mesmo quando eles resolvem participar de ações que ferem direitos humanos mais elementares? Os norte-americanos não contaram com o apoio de muitos países quando eles – em meados dos anos sessenta – resolveram invadir o Vietnã, com a desculpa de que era preciso livrar esse país do “perigo comunista”? E o que aconteceu ao longo da década de setenta? Por acaso os Estados Unidos não contaram até mesmo com o apoio da Igreja para espalhar ditaduras militares por diversos países da América Latina? Os norte-americanos não contaram sempre com aliados pelo mundo afora para manter o bloqueio econômico – e criminoso – contra Cuba?
Há poucos mais de duas semanas atrás os Estados Unidos procuraram abafar o escândalo sexual envolvendo Bill Clinton, e lançaram meia dúzia de mísseis Tomahawk contra o Afeganistão e o Sudão, matando dezenas de inocentes. Por ventura, algum país de maior influência se preocupou em vir a público para fazer uma condenação mais veemente contra mais esse genocídio praticado pelos norte-americanos?
A história está repleta de exemplos em que os Estados Unidos se arvoraram no direito de atuar como policial do planeta e de atentar contra a soberania de um país quando bem entender, seja para derrubar presidentes, seja para questionar um regime político, ou ainda para impor o modelo econômico ditado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). O que governos como os de Bill Clinton intencionam fazer agora com a Amazônia pode diferir um pouco na forma, mas no conteúdo é muito semelhante a outros atentados que eles têm patrocinado nos últimos anos contra a soberania de uma série de países.
E se apenas saber das intenções dos Estados Unidos em relação à floresta amazônica já nos leva a uma reflexão profunda, e a prever que a nossa maior floresta pode ter um destino semelhante ao que foi dado às estatais brasileiras (empresas cujos patrimônios foram sucateados, e entregues aos estrangeiros a preço de banana), uma notícia recente sobre a Amazônia - que circulou nas revistas nacionais – nos coloca em alerta, e com a convicção de que algo precisa ser feito com urgência.
Sob o pretexto de que é preciso combater o narcotráfico e a guerrilha colombiana na fronteira, o Brasil aceitou que Bill Clinton enviasse um grande aparato militar ao Brasil; aparato esse que ocupou posições estratégicas dentro da floresta, por um período de tempo não divulgado. Ou seja, pelo que se conhece de outras ações dos ianques, é muito provável que esse discurso de combate ao narcotráfico seja usado apenas como uma espécie de álibi, para esconder o que os norte-americanos realmente pretendem fazer no norte do nosso país.
Indignação. Esse talvez seja o termo apropriado para designar o sentimento que nos domina, sempre que paramos para refletir sobre o destino que parece estar reservado à nossa floresta. Mas essa criança indefesa chamada Floresta Amazônica espera de nós algo mais que o desenvolvimento de um sentimento de revolta interior. A floresta espera que nós, que ainda temos o privilégio de freqüentar uma escola, e que temos acesso a informações esclarecedoras, façamos mais que apenas lamentar seu futuro sombrio. Na verdade, o que a floresta espera de pessoas socialmente sensíveis como nós, é que nos transformemos em porta-vozes da natureza; em pessoas capazes de fazer com que seu grito de agonia possa ecoar e ser ouvido pelo mundo afora.
Faz tempo que os inimigos do ar, da fauna e da flora iniciaram uma grande ofensiva visando justificar a investida dos mesmos sobre as riquezas naturais da Amazônia. Cabe a nós - que somos simples mortais, mas que não conseguimos calar perante algumas das ações inconseqüentes dos nossos semelhantes - forjamos espaços nos meios de comunicação, onde seja possível tanto denunciar os agressores da natureza, quanto ganharmos adeptos para formarmos uma grande cruzada em defesa de ecologia e da vida.
Afinal, como disse o poeta: “Quem hoje é vivo corre perigo. E só quem pode nos salvar é caviúna, cerejeira, baraúna, imbula, pau-d’arco, solva, juazeiro e jatobá; gonçalo-alves, paraíba, itaúba, louro, ipê, paracaúba, peroba, massaranduba; carvalho, mogno, canela, imbuzeiro, catuaba, janaúba, arueira, araribá; pau-ferro, angico, amargoso, gameleira...”
José Eduardo Bastos