quinta-feira, 20 de maio de 2010

SOBRE O ABORTO

O direto à interrupção de uma gravidez de forma precoce é um tema sempre atual, polêmico e capaz de dividir, através dos tempos, a sociedade em dois blocos bem distintos: de um lado a turma que o condena, usando como argumentos preceitos religiosos; do outro, setores progressistas, que defendem sua prática como um direito inalienável à livre escolha.

Aqueles que condenam o aborto geralmente se baseiam em princípios cristãos, e dizem que o feto, a partir do momento em que começa a ser concebido no ventre materno, já possui todas as características dos seres vivos. Portanto, o único que podia tirar-lhe a vida seria o ente que o criou e que conduz o destino de todas as coisas: Deus.

Se por um lado os críticos do aborto contam com um arsenal de argumentos bíblicos para o condenar, por outro lhes faltam respostas para problemas cruciais, gerados por nascimentos de filhos de forma indesejada ou mal programada. Por exemplo, o que esse pessoal tem feito para evitar que as crianças que nascem em lares economicamente miseráveis acabem nas ruas, ingressem no mudo das drogas, do crime ou tenham como destino final uma dessas febens da vida? O que esse pessoal tem feito pelos meninos e meninas que nascem em famílias numerosas, e que logo são abrigadas a sobreviverem nas ruas – sujeitos a todo tipo de violência -, simplesmente porque a seus pais faltam condições materiais para criá-los decentemente?

Enquanto os que condenam o aborto acabam mergulhando num mar de contradições, aqueles que defendem a legalização dessa prática lançam mão de argumentos concretos e objetivos. Eles dizem que se uma mulher pega uma gravidez como conseqüência de um estupro, nada mais natural que lhe seja dado o direito de ter, ou não, esse filho. As vozes favoráveis ao aborto partem de um princípio, segundo o qual se uma gravidez, por um motivo ou outro, coloca em risco a vida da mãe, nada mais oportuno que interrompê-la, até como condição para que se preserve a vida que, nesse caso, merece toda a prioridade do mundo.

Na luta de conscientização objetivando ganhar aliados, os defensores do aborto são bastante realistas. Eles dizem que mesmo que permaneça como ilegal, o aborto continuará sendo praticado com a mesma regularidade de antes. A sua legalização redundaria em grandes benefícios para as mulheres, haja vista que a sociedade teria como exigir que o Estado equipasse seus hospitais, para que dessa forma a clientela pudesse ser atendida de forma digna e humana. É preciso que o aborto passe a merecer a mesma atenção dispensada ao parto. Só assim será possível evitar que milhares de mulheres arrisquem suas vidas, usado os serviços desses charlatões que comandam clinicas clandestinas pelo país afora.

Ora, nessa batalha verbal entre defensores e opositores do aborto, o que observamos é que estão esquecendo de dar voz e vez a parte mais envolvida e interessada na questão. Se a natureza deu à mulher a primazia em procriar seres humanos - com todas as conseqüências maléficas e benéficas daí advindas -; se cabe à mulher o ônus maior na criação dos filhos, o mais justo é que a voz feminina seja a que fale mais alto e tenha a palavra final em todo esse debate.

JOSÉ EDUARDO BASTOS

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