segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O MAX É UM MANANCIAL DE CONHECIMENTOS





O Museu de Arqueologia de Xingó (MAX), da Universidade Federal de Sergipe (UFS), está localizado no município de Canindé do São Francisco, estado de Sergipe, e foi criado no ano 2000 com a missão de pesquisar, preservar e expor o patrimônio arqueológico de Xingó.

A partir de 1988, com o início dos trabalhos de construção da Usina Hidrelétrica de Xingó, foi desenvolvido pela UFS, com apoio da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), projeto de salvamento arqueológico na área que seria inundada pelo reservatório da nova usina, o que permitiu identificar a existência de uma cultura xingoana na região, há pelo menos 9.000 anos atrás.

O acervo museológico da instituição é formado por mais de 50.000 peças e vestígios e está apresentado em uma exposição humanizada, na qual são destacadas todas as etapas de elaboração dos artefatos pré-históricos, compreendendo práticas humanas e procedimentos técnicos que o homem fez uso para se estabelecer na região. 

Cerâmica encontrada na região
 Numa visita ao Museu Arqueológico de Xingó (MAX) é possível se adquirir inúmeros conhecimentos, através da observação in loco de vestígios (peças, fragmentos e cerâmicas, instrumentos líticos, etc.), e de outras representações que traduzem com fidelidade a forma de vida e as características comportamentais de um homem pré-histórico que viveu em uma região específica de Sergipe, e em sítios localizados em Estados que fazem fronteiras com o nosso.  

Em Xingó o rio sempre foi importante
Através da exposição verbal de um guia no MAX, e da leitura de placas informativas espalhadas por todo interior do museu, é possível assimilar conhecimentos como idade em que os primeiros grupos se instalaram em Xingó, fauna e flora local, atividades relacionadas à sobrevivência, importância do rio São Francisco e outros aspectos que dizem respeito a todo contexto do homem que habitou a região na época. Fica-se sabendo ainda sobre peculiaridades relacionadas à linguagem humana da época, sobre técnicas empregadas em pinturas e em cenas retratadas. 
No que se refere a artesanato, conhece-se a técnica empregada na época para a transformação da matéria prima em utilidades - algumas devidamente representadas por exemplares encontrados no Baixo São Francisco. 

A pedra como principal ferramenta
Com relação à pedra, as informações dão conta das técnicas empregadas por diferentes grupos, como forma de transforme-la em ferramenta especifica a atendimento de necessidades pontuais. Há ainda objetos que provam a substituição de culturas em Xingó, e outros que revelam hábitos que perduraram no tempo. 



Rituais funerários



Os rituais funerários, também representados no museu de Xingo, mostram uma peculiaridade do homem pré-histórico: sua preocupação em perpetuar sua condição de vida. 




Em Xingó, a prática de salvamento foi utilizada em decorrência da construção da usina hidrelétrica. Na época, foram feitos levantamentos e mapeamentos nos sítios das áreas de terraço e abrigos próximos ao rio São Francisco e seus afluentes, nos limites dos Estados de Sergipe, Alagoas e Bahia. Além dos sítios de registro gráficos, foram localizados e sondados ainda numerosos sítios a céu aberto, com destaque para duas escavações completas: os sítios Justino e São José Il. Tais levantamentos serviram para o avanço das análises dos vestígios e dos contextos arqueológicos, o que garantiu um estudo dos sistemas socioculturais. 

Pintura na rocha
Em Xingó foram descobertos vários sítios, inclusive perto do local onde se localiza a usina hidrelétrica. Em quatro desses sítios, escavados em 1985, fora encontradas pinturas rupestres feitas com ocre (argila colorida por óxido de ferro de várias tonalidades pardacentas). Os sítios de Xingó, onde foram encontrados registros gráficos, estão localizados em matacões situados no platô e em paredões rochosos nos afluentes do rio São Francisco. Predominam os grafismos geométricos. Poucas são as cenas que constituem conjuntos correlacionados às atividades humanas do cotidiano. Os exemplares de grafismos figurativos são antropomórficos e zoomórficos. 

De acordo com amostras vistas no MAX, os principais artefatos encontrados em Xingó - como raspadores e afiadores - foram fabricados a partir da pedra, devido a sua resistência e durabilidade. Os artefatos líticos encontrados nessa localidade são de caçadores-coletores e têm datação de nove mil anos atrás. As matérias primas mais utilizadas compreendiam o quartzo, o sílex, o arenito e o arenito silicificado. 

O conjunto cerâmico de Xingó, presente num período entre 5570 a 1280 anos antes do presente, constitui um dos maiores acervos associados a ritos funerários na pré-história nordestina. Esses artefatos apresentam superfície alisada ou decorada e, entre estas, a cerâmica pintada, presente nos níveis mais superficiais, em geral nas cores vermelha e branca, denotando a substituição de culturas, possivelmente a presença tupi-guarani na região. Foram encontrados também trabalhos feitos em argila e cachimbos, o que dá a entender que já nessa época eles praticavam o habito do fumo. 


Quando morria, o homem de Xingó era enterrado com objetos - como colares, prendedores de cabelo e braceletes; cada objeto simbolizava o que cada um tinha sido em sua vida terrena. 

        
 Xingó nos ensina que o caminho das pedras, para regatar a historia de uma geração, passa pela compreensão do ambiente em que esse homem viveu; da maneira como ele labutou para garantir seu sustentou; das ferramentas que modelou para facilitar sua investida contra a natureza; das pinturas e desenhos que fez para retratar desejos e emoções; das expressões corporais e faciais que representou para se manifestar diante de seus pares; dos objetos que projetou para colocar seu sustento à prova do fogo; dos enfeites que trançou para se apresentar mais bonito diante dos seus; dos hábitos que tinha para amenizar as agruras do cotidiano; e, finalmente, dos adereços que levou para o túmulo, com prova do status social que gozou quando em vida. 

Os ensinamentos apreendidos em Xingó servem de alento e apontam para novos desafios. Se a geração do presente pode se considerar privilegiada, pois pode contar com acervos que ajudam a reconstituir o passado e a entender melhor o presente, resta aos futuros profissionais da Historia e da Geologia - que em breve serão convocados a dar a palavra final sobre a história - assumirem o compromisso de serem guardiões de uma memória que despertará, nas gerações que virão, sentimentos iguais aos que dominam os que figuram como visitantes de Xingó no presente.


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