O Museu de Arqueologia de Xingó (MAX), da Universidade
Federal de Sergipe (UFS), está localizado no município de Canindé do São
Francisco, estado de Sergipe, e foi criado no ano 2000 com a missão de
pesquisar, preservar e expor o patrimônio arqueológico de Xingó.
A partir de 1988, com o início dos trabalhos de construção
da Usina Hidrelétrica de Xingó, foi desenvolvido pela UFS, com apoio da
Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), projeto de salvamento
arqueológico na área que seria inundada pelo reservatório da nova usina, o que
permitiu identificar a existência de uma cultura xingoana na região, há pelo
menos 9.000 anos atrás.
O acervo museológico da instituição é formado por mais de
50.000 peças e vestígios e está apresentado em uma exposição humanizada, na
qual são destacadas todas as etapas de elaboração dos artefatos pré-históricos,
compreendendo práticas humanas e procedimentos técnicos que o homem fez uso
para se estabelecer na região.
Cerâmica encontrada na região |
Em Xingó o rio sempre foi importante |
Através da exposição verbal de um guia no MAX, e da leitura de placas informativas espalhadas por todo interior do museu, é possível
assimilar conhecimentos como idade em que os primeiros grupos se instalaram em Xingó, fauna e flora local, atividades relacionadas à
sobrevivência, importância do rio São
Francisco e outros aspectos que dizem respeito a todo contexto do homem que habitou a região
na época. Fica-se sabendo ainda sobre peculiaridades relacionadas à linguagem humana da época, sobre técnicas empregadas em pinturas e em cenas retratadas.
No que se refere a artesanato, conhece-se a técnica empregada na época para a transformação da matéria prima em
utilidades - algumas devidamente representadas por exemplares encontrados no Baixo São Francisco.
A pedra como principal ferramenta |
Com relação à pedra, as informações dão conta das técnicas empregadas por
diferentes grupos, como forma de transforme-la em ferramenta especifica a atendimento de necessidades
pontuais. Há ainda objetos que provam a substituição de culturas em Xingó,
e outros que revelam hábitos que perduraram no tempo.
Rituais funerários |
Os rituais funerários, também representados no museu de
Xingo, mostram uma peculiaridade do homem pré-histórico: sua preocupação em
perpetuar sua condição de vida.
Em Xingó, a prática de salvamento foi utilizada em
decorrência da construção da usina hidrelétrica. Na época, foram feitos
levantamentos e mapeamentos nos sítios das áreas de terraço e abrigos próximos
ao rio São Francisco e seus afluentes, nos limites dos Estados de Sergipe,
Alagoas e Bahia. Além dos sítios de registro gráficos, foram localizados e
sondados ainda numerosos sítios a céu aberto, com destaque para duas escavações
completas: os sítios Justino e São José Il. Tais
levantamentos serviram para o avanço das análises dos vestígios e dos contextos arqueológicos, o que garantiu um
estudo dos sistemas socioculturais.
Pintura na rocha |
Em Xingó foram descobertos vários sítios, inclusive
perto do local onde se localiza a usina hidrelétrica. Em quatro desses sítios, escavados em 1985, fora
encontradas pinturas
rupestres feitas com ocre (argila colorida por óxido de ferro de várias tonalidades pardacentas). Os sítios de Xingó, onde foram encontrados
registros gráficos, estão localizados em matacões situados no platô e em
paredões rochosos nos afluentes do rio São Francisco. Predominam os grafismos
geométricos. Poucas são as cenas que constituem conjuntos correlacionados às atividades
humanas do cotidiano. Os exemplares de grafismos figurativos são
antropomórficos e zoomórficos.
De acordo com amostras vistas no MAX, os principais artefatos encontrados em Xingó - como raspadores e
afiadores - foram fabricados a partir da pedra, devido a sua resistência e
durabilidade. Os artefatos líticos encontrados nessa localidade são de
caçadores-coletores e têm datação de nove mil anos atrás. As matérias primas
mais utilizadas compreendiam o quartzo, o sílex, o arenito e o arenito silicificado.
O conjunto cerâmico de Xingó, presente num período entre 5570 a 1280 anos antes
do presente, constitui um dos maiores acervos associados a ritos funerários na
pré-história nordestina. Esses artefatos apresentam superfície alisada ou
decorada e, entre
estas, a
cerâmica pintada, presente nos níveis mais superficiais, em geral nas cores vermelha e branca, denotando a
substituição de culturas, possivelmente a presença tupi-guarani na região. Foram encontrados
também trabalhos feitos em argila e cachimbos, o que dá a entender que já nessa
época eles
praticavam o habito do fumo.
Quando morria, o homem de Xingó era enterrado com objetos -
como colares, prendedores de cabelo e braceletes;
cada objeto simbolizava o que cada um tinha
sido em sua vida terrena.
Xingó nos ensina que o
caminho das pedras, para regatar a historia de uma geração, passa pela
compreensão do ambiente em que esse homem viveu; da maneira como ele labutou
para garantir seu sustentou; das ferramentas que modelou para facilitar sua investida contra a
natureza; das
pinturas e desenhos que fez para retratar desejos e emoções; das expressões
corporais e faciais que representou para se manifestar diante de seus pares; dos objetos que
projetou para colocar seu sustento à prova
do fogo; dos enfeites que trançou para se apresentar mais bonito diante dos
seus; dos
hábitos que tinha para amenizar as agruras do cotidiano; e, finalmente, dos adereços que levou para o túmulo, com prova do
status social que gozou quando em vida.
Os ensinamentos apreendidos em Xingó servem de alento e
apontam para novos desafios. Se a geração do presente pode se considerar privilegiada, pois pode contar com
acervos que ajudam a reconstituir o passado e a entender melhor o presente, resta aos futuros
profissionais da Historia e da Geologia - que em breve serão convocados a
dar a palavra final sobre a história - assumirem o compromisso de serem
guardiões de uma memória que despertará, nas gerações que virão, sentimentos
iguais aos que dominam os que figuram como visitantes de Xingó no presente.
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