quarta-feira, 13 de janeiro de 2016


ALAN TATOO

NA PELE PARA SEMPRE


EDUARDO BASTOS



Tatuagem
Chico Buarque
  
Quero ficar no teu corpo
Feito tatuagem
Que é pra te dar coragem
Pra seguir viagem
Quando a noite vem



As tatuagens são uma forma de arte corporal que atrai milhares de pessoas em todo o mundo. Curiosamente, ostentar uma tatuagem faz com que uma pessoa pareça moderna, entretanto, esta arte já existe há séculos. A forma como é feita foi modernizada, mas a essência de ornamentar o corpo com desenhos já existe há muito tempo. Os tipos de desenhos são muito variados e encontrados para todos os gostos. Além disso, quem tem talento para desenhar pode criar algo exclusivo e personalizado ou pedir que um tatuador o faça. Assim como há variação de desenhos, seus significados também podem variar bastante. O significado de uma tatuagem é algo bastante relativo, já que algumas pessoas se preocupam com o que a imagem representa, com o significado do desenho e o escolhem de acordo com o que pretendem representar, enquanto outras fazem a tatuagem apenas por sua beleza.


ALAN CLEITON



Antes do tatuador eu conheci o enxadrista. É que, há anos, os torneios de xadrez em Lagarto são sempre organizados por dois amigos: Alan Cleiton e Ademir Francisco de Oliveira. E eu sempre compareci a esses campeonatos para tirar algumas fotos e para acompanhar as partidas em absoluto silêncio. Eu aprendi os movimentos das peças, algumas coisas de tática e estratégia do xadrez, joguei muitas partidas com meus irmãos, com Ademir, seus filhos e esposa, mas nunca me atrevi a enfrentar um adversário num campeonato.   


Por umas duas vezes, e sempre nas tardes de sábados, Ademir me chamava para irmos à casa de Alan, onde os dois travavam uma peleja ferrenha ao longo de três ou quatro horas, disputando de duas a, no máximo, três partidas - pois não podíamos sair dali com o jogo empatado. 
  
Foram nessas tardes de sábados que conheci o espaço de trabalho de Alan.  Sua fama de bom tatuador sempre chegou aos meus ouvindo através dos inúmeros amigos que já se submeteram à técnica de Alan. Meus olhos também nunca se cansaram de espiar, nem admirar, a arte que esse meu amigo imprime nos corpos daqueles que, como eu, se fazem presentes em shows e eventos culturais na cidade. Nunca pensei em desenhar meu corpo - não levo jeito para isso! Sou meio antiquado para certos modismo. Sou apenas mais um apreciador, admirador discreto de quem faz uso do corpo para espalhar mensagens e comunicar um ou mais sentimentos. 


QUEM É O TATUADOR A QUEM ME REFIRO

Alan Cleiton Fagundes é um lagartense, filho de um taxista e uma costureira, que na adolescência residiu por um bom tempo no Povoado Barro Vermelho. No início da década de 1990, ele voltou a morar na cidade, e ai estudou na Escola Frei Cristóvão de Santo Hilário, no Colégio Cenecista Laudelino Freire, e no Aberlardo Romero Dantas, de onde saiu quando cursava o segundo ano, pois se viu impossibilitado de concluir os estudos, uma vez que já havia constituído família, tinha filho, e labutava ao longo do dia em dois empregos - além de tatuador, Alan é alinhador e balanceador de automóveis. 

Um dia, Alan descobriu que levava jeito para desenhar. Em meados da década de 1980, ele ainda era um pingo de gente, mas rabiscava tudo quanto é desenho animado. Antes mesmo de ir morar no interior, desenhou todo o sítio, só de seus pais descreverem como era o lugar onde a família passaria a residir. Quando Alan voltou a morar na sede do município e retornou para a escola, voltou também a desenhar - pois na escola o que ele mais fazia mesmo era desenhar, mesmo que isso atrapalhasse um pouquinho seus estudos. (Nesse período, todos os amigos de Alan lhe diziam que ele ia ser tatuador quando crescesse, pois ele gostava de riscar pessoas com a caneta. Mas Alan não queria para si a profissão de tatuador, não gostava mesmo quando diziam que ele iria ser isso, haja vista ter um pai que não o apoiaria, e nem ele próprio era capaz de absorver o prognóstico dos amigos com tranquilidade. Mas o fato é que, toda vez que os amigos lhe pediam para desenhar algo no corpo deles, ele ia lá e desenhava com a maior disposição  e desenvoltura mundo!). 

Em 2008, Alan conheceu uma menina que tinha uma mãe e um irmão que adoravam tatuagem. Através desses três amigos, Alan conheceu um tatuador de codinome Puma. Um dia do ano de 1998, Alan fui até a casa desse tatuador, para que o profissional cumprisse a promessa de o ensinar a arte. À época, um tatuador não tinha como contar com material profissional; tudo era muito caseiro. Cada tatuador tinha que fazer sua máquina. O profissional procurado impôs a condição de Alan providenciar seu próprio material para que ele o ensinasse. Alan então adquiriu o material que foi possível encontrar, e o levou para que o tatuador preparasse sua máquina. Puma  estava sem tempo naquele momento, e propôs a Alan que usasse sua própria máquina para tatuar um primo do tatuador, de nome Márcio, que estava por ali de bobeira, e que aceitou sem pestanejar a ideia de ganhar uma nova tatuagem em seu corpo sem ter que pagar por isso. Márcio sentou por ali, Alan pegou uma caneta esferográfica, molhou a pele de sua cobaia com álcool, fez o desenho do rosto do personagem do filme Cars, meteu a agulha na pele do primo do tatuador, e depois foi seguindo as dicas que o próprio Márcio lhe dava enquanto a máquina imprimia o desenho em sua pele. Depois, Alan aprimorou esse mesmo desenho com a ajuda do próprio tatuador, e ainda tratou de desenvolver seu próprio estilo de desenhar. 

Alan afirma que passou a cobrar por seu trabalho desde as primeiras tatuagens que fez, pois, quando desenhava, todo mundo gostava e naturalmente o remunerava por isso. No inicio, não tatuar em sua própria casa foi a maneira que ele encontrou para que seu pai não ficasse sabendo de sua nova atividade. Alan ficou mais de um ano trabalhando sem o pai saber, tatuando nos bares ou nas casas dos clientes, e ganhando por isso. No ano de 2000, falou com sua mãe, que é sua "advogada", para que ela falasse com seu pai - Alan não podia nem pensar em falar direto com seu genitor, já que ele não costuma aceitar as coisas com naturalidade, e Alan nunca gostou de levar broncas. O pai aceitou que o filho tatuasse em casa, mas foi categórico quando disse que não queria ver Alan riscado, cheio de tatuagens. E, até hoje, ele respeita mesmo a determinação do pai, pois nunca se tatuou, nem nos braços, muito menos no peito ou nas costas. 

Alan fala que, para ser um tatuador, o sujeito precisa gostar de desenhar, de ganhar a vida tatuando. Mas ele esclarece que desenhar na pele não é  uma coisa muito fácil de se fazer. Um indivíduo não pode pegar uma maquina e sair riscando todo mundo, achando que o que importa é simplesmente o dinheiro. O tatuador tem que valorizar seu trabalho, tem que estudar desenho. Quando se começa um desenho é preciso ter em mente o caminho a seguir. Se o tatuador cola um desenho na pele do cliente, e se, por acaso, o desenho apaga, e se o tatuador não sabe desenhar, com certeza terá um problema em mãos. Alan diz que isso é o que mais acontece por ai. Saber desenhar é, pois, requisito básico para se tatuar.  

Os materiais que o tatuador usa em sua atividade costumam mudar através dos anos. Alan disse que, no começo, a máquina que usava era caseira e a tinta também era grotesca - ainda se usava nanquim, que não é uma tinta apropriada para tatuagem, mas que não dava problema, dificilmente se via uma alergia numa pessoa. Em 2002, Alan comprou seu material, seu primeiro kit - um kit básico, que ele adquiriu nas Lojas Tatoo, e que continha uma tinta homogênea e importada. Hoje, a tinta que Alan usa é a Elektrika, um produto antialérgico e liberado pela Anvisa. Em relação a agulhas, nosso tatuador diz que a maioria das que usa é importada; outras são nacionais, mas de boa qualidade. 

A máquina que Alan usa para desenhar na pele dos seus clientes é a tradicional, composta de duas bombinas, um batedor - preso por duas molas -, e um parafuso - que tem por função dá atrito às molas, fazendo com que o batedor crie um campo magnético entre as bombinas e depois dê movimentos de cima para baixo e de baixo para cima. Ao contrário do que se pensa, a tinta não jorra de dentro da agulha; a tinta fica no corpo da agulha, como acontece com a tinta das canetas tinteiros. A máquina é composta ainda por uma biqueira, que pode ser de aço ou de plástico - Alan prefere usar o segundo tipo, uma vez que ela é descartável e proporciona maior agilidade sempre que ele necessita trocá-la, passar de uma biqueira que comporta 03 agulhas para uma outra que pega 15. 

O ato de tatuar envolve grande risco de infecção, dependendo do tatuador e do cliente. O cliente tem sempre que ter a preocupação de procurar um bom profissional, aquele que sempre usa um material correto, haja vista que uma contaminação pode se dá tanto pela agulha, quanto por um borrifador, a depender da experiência e dos cuidados adotados pelo tatuador durante a execução do seu trabalho. 

Durante muito tempo a tatuagem foi encarada de forma preconceituosa, a ponto de um sujeito tatuado ter dificuldade até mesmo para ser aceito num emprego. Alan diz que hoje esse preconceito diminuiu muito, que é grande o número de pessoas tatuadas, e que tem até mesmo lojas de moda, em cidades como o Rio de Janeiro, que só contratam funcionários se eles ou elas tiverem tatuagens ou piercings. 

Algumas pessoas tatuam a pele para mostrar que são diferentes, para se destacar. Outras o fazem com o objetivo de homenagear. O desenho sempre tem um significado especial para quem se deixa tatuar. Alan diz que a tatuagem que encerra um significado particular sempre é a melhor que tem, pois dificilmente provoca arrependimento, e diz que sempre brinca com os clientes que querem tatuagens que homenageiam namorados(as), porque a tatuagem é para sempre; o namoro, não! E, sempre que um namoro acaba, resta sempre uma dor de cabeça, tanto para o cliente quanto para o tatuador, para cobrir aquele nome. Há uma regra entre os tatuadores, que é a de explicar ao cliente o que é uma tatuagem, pois o profissional não pode simplesmente colocar uma tatuagem sem querer saber se aquilo ficará legal. Tatuar o símbolo de futebol, por exemplo, é sempre complicado, pois pode despertar a ira de torcedores adversários (a exemplo do que acontece em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo). 

Noventa e oito por cento dos clientes que procuram o studio de Alan já chegam lá com o desenho, ou com a ideia do que querem ver tatuado em suas peles. Alan diz que só influencia na escolha do cliente se o desenho se referir a seitas, nome de namorado(a), de parentes, de pessoas, de artistas ou de times de futebol. 

A tatuagem que deu mais trabalho a Alan foi a de um cliente de nome Gilvando. Ele pediu que Alan fizesse um dragão em suas costas, depois disse que queria um tigre do lado, em seguida disse que desejava umas letras japonesas e uma flor de lótos. Em outro momento, esse mesmo cliente resolveu que queria mais letras japonesas, mais flor de lótos e nomes. Alan diz que acabou levando dois anos para fechar as costas de Gilvando com tatuagens, mas que foi um dos trabalhos que mais gostou de fazer.

Alan diz que a parte do corpo mais sensível para receber tatuagem é o pé. Mas os clientes reclamam mesmo é quando os desenhos são tatuados em suas costelas. Já houve situações em que clientes pensaram mesmo em desistir logo depois de o tatuador iniciar seu trabalho, mas Alan diz que, diante de uma situação como essa, o que ele aconselha é que o cliente feche os olhos e suporte a dor, pois uma mudança de local - para a panturrilha, braço ou  qualquer outro lugar - pode trazer arrependimento. 

Uma série de motivos lavam as pessoas a desistir de fazer um tatuagem. Alan disse que já teve situações em que ele preparou material, bancada e tudo, e quando chegou com a agulha a cliente desistiu. Alguns tatuadores cobram por essa desistência em cima da hora, uma vez que grande parte do material se perde. Depois que o tatuador coloca a tinta no pote, ela tem que ser descartada, mesmo que uma gota sequer tenha sido usada. O mesmo acontece com a vaselina e a agulha que foi aberta. Durante os anos em que trabalho de tatuagem, dois clientes de Alan acabaram desistindo de concluir a pintura: um que era tatuado na  costela; outro na cintura. 

Hoje, Alan é também campeão do jogo xadrez em Lagarto. Ele diz que jogar xadrez ajuda muito em seu trabalho como tatuador. Xadrez ajuda em seu desenvolvimento mental, ajuda a tatuar, ajuda no trato com as pessoas e ajuda ainda a ele ser paciente. 

A internet é uma ferramenta fundamental, da qual Alan faz uso tanto para pesquisar, quanto para aprimorar sua técnica. Ele diz que hoje o Youtube ajuda muito no seu aprendizado. Um dos tatuadores que ele Admira é Anil Gupta. Alan diz que, graças ao Youtube, hoje ele pode ter Gupta ali na tela do seu computador trabalhando - e isso contribui para que ele  aprenda ainda mais e aprimore sua técnica. 

Alan revela que o valor de um tatuagem costuma ser definido pelo do tempo gasto ou pelos centímetros quadrados tomados pelo desenho na pele do cliente. Desde que começou, Alan trabalha por centímetro quadrado, pelo espaço tatuado; outros tatuadores trabalham por tempo. Alan diz que é possível viver da profissão. Se o tatuador for um bom profissional, é possível ter um retorno financeiro. Alan confessa que nunca trabalhou por dinheiro, mas sim por gostar de desenhar, e esclarece que visa sempre fazer o que gosta - e o que ele gosta de fazer na vida é tatuar. 

Alan sempre diz a quem mostra interesse em ingressar no ramo da tatuagem que, antes de tudo, é preciso gostar de desenhar. Os profissionais que mais se destacaram na tatuagem foram aqueles que, desde o início, mostraram inclinação para o desenho. O mercado para quem quer começar a trabalhar com tatuagem é bastante promissor, uma vez que há muito mais gente no mundo querendo tatuar do que tatuador. Para quem quer realmente começar, a dica é saber de antemão se é isso mesmo o que quer, e procurar um bom profissional, que o ensine e o capacite. Alan diz que um tatuador iniciante tem que aprender a ser sempre paciente, para não judiar a si mesmo nem ao cliente. Tem também que se policiar, falando somente o necessário para não influenciar no desenho do cliente - desenho que, afinal, marcará a pele do tatuado para sempre!

A TATUAGEM DE CADA UM


Thais Santos


Desde criança sempre fui apaixonada por modificação corporal em geral. Assistia à documentários sobre tribos, estudava sobre o assunto. Minha primeira tatuagem veio aos 24 anos, uma tríquetra, símbolo que representa a minha fé:

Originário das tradições Celtas, ele representa as três faces da Grande Mãe, a energia criadora do universo, cujas três faces são a Virgem, a Mãe e a Anciã. Muito utilizado também como símbolo de proteção:



Minha segunda tatuagem, uma Catrina:

Um esqueleto de uma mulher completamente adornada, como distintivo da alta sociedade do início do século XX e tem uma função de lembrar que as diferenças sociais não significam nada diante da morte. A origem da Catrina remonta às festas dos mortos pré-colombianas.


Minha terceira tatuagem fiz aqui na cidade de Lagarto com o tatuador Iuri Valença, uma âncora que fiz junto com uma amiga minha, como forma de simbolizar a nossa amizade:



Minha quarta tatuagem foi com o tatuador Zabdiel Neri. Meu poema favorito do meu escritor favorito: Charles Bukowski. Poema Bluebird:

Pássaro Azul

Há um pássaro azul em meu peito
que quer sair
mas sou duro demais com ele,
eu digo, fique aí, não deixarei que ninguém o veja.
há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas eu despejo uísque sobre ele e inalo
fumaça de cigarro
e as putas e os atendentes dos bares
e das mercearias
nunca saberão que
ele está
lá dentro.
há um pássaro azul em meu peito
que quer sair
mas sou duro demais com ele,
eu digo,
fique aí,
quer acabar comigo?
Quer foder o meu trabalho?
Quer arruinar minha venda de livros na Europa?
Há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou bastante esperto, deixo que ele saia somente em algumas noites
quando todos estão dormindo.
eu digo: sei que você está aí,
então não fique triste.
Depois, o coloco de volta em seu lugar,
mas ele ainda canta um pouquinho
lá dentro, não deixo que morra completamente
e nós dormimos juntos
assim com o nosso pacto secreto
e isto é bom o suficiente para
fazer um homem
chorar,
mas eu não choro,
e você?



A tatuagem mais recente que fiz é uma árvore, a mãe e o filho, que ao mesmo tempo que representa a grande mãe terra que nos dá a vida, representa a mim e a meu filho. O triângulo invertido representa o meu elemento: água. A fusão Terra x Água. A vida que se forma e transforma. 




Rodrigo Bomfim

Rodrigo Bomfim é funcionário público e diz que sua tatuagem representa algo muito significativo, tão importante que ele decidiu carrega-la numa parte do seu corpo. Ele resolveu faze-la porque queria deixar registrado algo que foi importante durante um período de sua vida. A tatuagem de Rodrigo representa sua personalidade, trás algo de muito importante para ele. Rodrigo sente que ainda há muito preconceito em relação à tatuagem, e que alguns religiosos se utilizam dos livros para fundamentarem suas opiniões. O que essas pessoas não percebem, segundo Rodrigo, é que a tatuagem, na maioria dos casos, encerra apenas um significado próprio.

Isadora Fernanda de Freitas Cunha



A jovem loira e simpática de nome Isadora Fernanda de Freitas Cunha nasceu e se criou na cidade de Itabaiana (SE), e fez seu ensino médio nessa cidade mesmo, no Colégio Opção. Atualmente Isadora é aluna do curso de Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Sergipe, no Campus de Lagarto. Isadora decidiu-se por esse curso quando necessitou frequentar uma clinica por um tempo para acompanhar o tratamento de reabilitação de sua genitora. Na busca por um curso que garantisse seu ingresso na Universidade, Isadora acabou por se decidir por Terapia Ocupacional, mesmo não sabendo ao certo as exigências, o que se fazia no curso e se era isso mesmo o que ela queria fazer. Depois ela passou a gostar do curso. 

Isadora resolveu fazer sua primeira tatuagem porque desde que era criança achava bonito. Duas de suas tias têm tatuagem, assim como um dos seus tios. Sua mãe sempre dizia que nunca deixaria ela fazer, mas Isadora sempre lhe falava que quando fosse independente faria sim uma tatuagem. Um dia, há cerca de dois anos, Isadora chegou para sua mãe e disse que estava decidida a tatuar sua pele. Sua mão tentou dissuadir Isadora da ideia, mas acabou tendo que aceitar. 

A primeira tatuagem de Isadora Fernanda é a imagem de uma gaiola, uma chave largada ao lado, alguns pássaros ganhando a liberdade e a inscrição "Believe". Até se decidir por essa tatuagem, Isadora pesquisou e viu muitas fotos na rede mundial de computadores. No início ela tinha em mente umas oito opções de tatuagens, mas ai se deparou com essa imagem, achou a palavra Believe muito forte e finalmente decidiu-se por imprimir esse que é o desenho que há dois anos ela mostra no seu antebraço direito.

Em agosto de 2015, Isadora voltou a tatuar sua pele. Dessa vez o local escolhido foi a coxa da perna direita, e ali ela fez imprimir a frase "Recomeçar Faz Parte de Viver". Ela escolheu essa frase por sempre gostar, por se identificar com ela, por ela fazer parte até do seu status do watsapp. Quando Isadora pensou em fazer sua segunda tatuagem, nunca passou por sua mente que seria uma frase. Mas esse acabou sendo o desenho escolhido, e ela se decidiu por tatuá-lo em sua perna porque achava bonito tatuagens que tinha visto em outras pessoas, especificamente nesse local. 

Na sua família, os parentes maternos acharam a tatuagem de Isadora legal, não opinaram muito. Já sua avó, mãe de seu pai, quando viu sua primeira tatuagem disse que aquilo era coisa de malandro, de maconheiro e de vagabundo. Isadora falou para sua avó que tatuagem não desvia a personalidade de ninguém, e ai sua avó acabou por aceitar. Mas Isadora confessa que até hoje sua mão diz que sente vergonha quando a filha levanta o braço. A mãe de Isadora não gosta. Admite que até acha bonito tatuagem, mas apenas as que são feitas nos outros. Por ela, Isadora não teria feito nenhuma tatuagem. Ela chegou até mesmo a dizer à filha: "Eu deixo você fazer, mas saiba que não é de minha vontade!?". Toda vez que Isadora diz que vai fazer uma nova tatuagem, sua genitora começa a dizer: "Você sabe que quando for arrumar um emprego as pessoas irão olhar isso, que você tem tatuagem..." Diante dessa fala, Isadora diz que tenta convencer à mãe que não é tão simples assim, e ai ela entende. 

Isadora diz que o preconceito em relação a quem tem tatuagem ainda é algo muito forte na sociedade. Mas ele diz também que esse preconceito diminuiu muito, e acha que isso se deve ao fato de a tatuagem ter virado moda, de quase todo mundo estar querendo se tatuar. Isadora diz que as pessoas fazem tatuagem para homenagear alguém e também porque acham esteticamente bonito.

Marcos Prata

Marcos Raimundo Prata de Carvalho (Papinho) um dia decidiu fazer tatuagens em seu corpo porque sempre quis ser diferente da maioria das pessoas, nunca lhe ocorreu a ideia de envelhecer e deixar de ser moderno. Papinho sempre achou bonito tatuagem, brinco, piercing..., e, como sempre teve muitas marcas de pancadas de futebol entre as canelas – e também já se submeteu a duas cirurgias que deixaram marcas -, resolveu aproveitar o momento para fazer tatuagens que também cobrissem-nas. Hoje, Marcos se tatua por achar bonito, e lembra que o jovem de hoje tem um gosto especial por tatuagem. Ele diz que quando está de bermuda, caminhando pelas ruas, sempre nota jovens olhando para as tatuagens do seu corpo com curiosidade, achando-as bonitas.  

A tatuagem que Papinho tem na perna esquerda se chama maori e simboliza um dragão, uma cobra enrolada, e é a que as pessoas mais admiram. O desenho que ele fez recentemente do seu lado direito tem a imagem de um punhal dentro da carne com o sangue derramando, e, para Papinho, ele representa a dor do desamor. Já a tatuagem que Marcos fez em seu peito tem vários significados. É uma árvore, que na verdade representa a árvore da vida, pois, como ele se submeteu há pouco tempo a uma cirurgia do coração, pediu ao tatuador que fizesse uma coisa diferente – e ai o tatuador desenhou o sol arrodeado pelo mar, umas ondas e uma árvore com frutas da vida, simbolizando o fato de Papinho ter sobrevivido à cirurgia. Uma outra tatuagem de Marcos representa uma escorpião, e  foi feita para homenagear pessoas especiais do seu convívio que nasceram sob esse signo. Papinho diz que agora sua pretensão é fazer outras tatuagens pelo corpo para homenagear seu time do coração – o Fluminense.  

Marcos Prata costuma falar que quem faz uma tatuagem se sente rejuvenescido, pois passa a ser aceito no meio de adolescentes e de pessoas com mentes mais abertas. Ele concorda que mesmo hoje ainda há muito preconceito. Sua mãe mesmo dizia-lhe que evitasse fazer tatuagens, mas Papinho lhe retrucava, dizendo que iria fazer, que o corpo era dele! Marcos Prata diz que sua mãe acabou se acostumando com suas tatuagens, e que todo mundo se acostuma, mas faz também questão de frisar que a sociedade tem sim preconceito, que acha que tatuagem é coisa para marginais, e que há até empregadores que não aceitam tatuagens expostas em partes como braço e pescoço, e, por isso mesmo, muita gente acaba optando por se tatuar em lugares onde pode cobrir - costas e barrigas. Papinho conclui seu raciocínio dizendo que hoje a tatuagem é aceita com mais naturalidade, uma vez que seu uso se difundiu muito na nossa sociedade e se tornou comum entre artistas e astros do futebol. 




Tsunami

Isaías Sena Chagas fez sua primeira tatuagem há 12 anos porque achava bonito seus traços, a perfeição do desenho, o profissionalismo envolvido e a moldura.  Quando era criança, ele sempre achou interessante os detalhes dos desenhos impressos numa tatuagem, e, ao se tornar adulto, decidiu finalmente fazer sua primeira marca no corpo, já que a tatuagem, para ele, é algo que fica registrado por boa parte da vida de uma  pessoa. Tsunami disse ainda que uma tatuagem é feita para mostrar, para propagar algo ou um sentimento. A tatuagem reflete atitude, um gosto pessoal, e é uma forma de reproduzir a natureza. A tatuagem, para Tsunami, revela um pouco do caráter e personalidade de cada um.  

A primeira tatuagem de Tsunami foi baseada em seu apelido, que foi colocado em 1996. O codinome ganho por ele deve-se ao fato de, em 1996, a terra se vê ameaçada por um asteroide que iria cair. Os físicos tinham feito vários cálculos do impacto que esse asteroide causaria caso viesse a se chocar com o planeta terra – e que seria semelhante àquele que causou a extinção dos dinossauros. Os cálculos também apontavam que, caso viesse a cair no mar, o asteroide produziria uma mega tsunami. Face a toda essa polêmica, Chagas passou a averiguar o assunto a fundo, e a falar tanto do acontecimento medonho que estava por vir - e que também prognosticava que o meteorito poderia cair no mar, produzindo uma onda gigante, capaz de cobrir do oceano Pacífico ao Atlântico – que seus amigos colocaram-lhe o apelido de Tsunami. O apelido também se justificava pelo fato de Isaias Chagas ter um comportamento imprevisto. Às vezes ele está ali calmo e, de um momento para o outro, explode e saia levando todo mundo. 

A segunda tatuagem que Tsunami tem no corpo, no seu braço direito, é um pentagrama. Esse foi o desenho que mais provocou-lhe dor. O pentagrama é um símbolo antigo, pagão e místico, que remota à ascensão do cristianismo. Os adoradores do pentagrama eram considerados, depois da Inquisição, adoradores do demônio. Mas Tsunami esclarece que, na verdade, o pentagrama representa os quatro elementos principais da natureza: água, terra, fogo e ar. As pessoas que não tinham conhecimentos cristãos adoravam os elementos da natureza que regiam a espécie, a matéria humana.  Quatro pontas da estrela do pentagrama simbolizam quatro elementos da natureza, enquanto a quinta representa o espírito. O pensamento místico reza que o pentagrama foi adorado por inúmeras civilizações. Assim que a Igreja tomou forma e assumiu o comando da fé, passou a simplesmente eliminar, a queimar em fogueiras, as pessoas que adoravam símbolos como o pentagrama. A própria Igreja costumava inverter o pentagrama e queimar seus adoradores junto com os próprios símbolos. O pentagrama é, pois, o símbolo pagão mais considerado (o pentagrama é o símbolo da maçonaria, e ainda hoje é comum encontrar a estrela de cinco pontas em diversas variedades de lojas do comércio local, assim como em presépios e ornamentações do natal). 

A terceira tatuagem que Tsunami fez desenhar em seu corpo é um crucifixo, com Cristo pendurado na cruz de cabeça para baixo, e o número quinze em romano. Para explicar o porquê desse desenho, Tsunami diz que há cerca de 4000 anos, muito antes de Cristo, os egípcios usavam vários símbolos naturais dentro das pirâmides, como forma de adorarem, de canalizarem regentes naturais, energias cósmicas e telúricas. Dentre os símbolos adotados pelos egípcios, havia um amuleto que tinha uma forma muito semelhante à cruz - e foi exatamente esse símbolo que a Igreja adotou, pós século XV, baseada nas antigas crenças. A cruz simboliza a união dos opostos e possui duas direções: vertical e horizontal. Ela representa vida e morte; luz e trevas; bem e mal. Ela é a união dos opostos. Cristo foi, pois, crucificado no símbolo de vida e morte. Depois da morte de Cristo na cruz, a Igreja adotou o conceito de que o símbolo cristão é a verdadeira cruz.

No quarto desenho que fez em seu corpo, Tsunami tatuou nas costa o nome satanás. Tsunami disse que não tatuou uma imagem porque, fazer isso, seria reproduzir uma criação mitológica, uma invenção de um ser que ninguém nunca viu. Ele diz que a imagem do diabo com chifre e capa foi o ser humano que criou, uma forma física de uma coisa terrível. Isaías explica que o nome Satanás vem do hebraico. Sat significa senhor; anás significa águas. Satanás portanto seria o Senhor das Águas ou o senhor dos elementos que cria a vida.  



A quinta tatuagem se encontra no peito de Tsunami, e é a Cruz de Caravaca apoiada por um oito. O oito, na forma que se encontra traçado no desenho, representa alquimia. Os primeiros químicos, através da natureza, conseguiam transmutar elementos e fazer acontecer coisas difíceis até mesmo para os tempos atuais. Eles praticavam a química oculta, usado o oito como uma representação da infinidade dos elementos compostos pela natureza. Sempre que tais químicos desejavam garantir maior longevidade para eles, tratavam de alcançar isso usando elementos oferecidos pela natureza.


Fotos: Alan Cleiton/Eduardo Bastos

Agradecimentos: Alan Cleiton, Rodrigo Bomfim, Marcos Raimundo Prata de Carvalho (Papinho), Isaías Sena Chagas (Tsunami).

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