sábado, 1 de dezembro de 2012

EXPOSIÇÃO AGROPECUÁRIA DE LAGARTO: DO AUGE À PERDA DE BRILHO



Parque de Exposição Paulo Nicolau de Almeida

 Desde que foi criada, e até o final dos anos noventa, a Exposição Feira de Animais de Lagarto sempre figurou entre os principais eventos da região centro sul do estado de Sergipe. Realizada a cada ano sempre na primeira ou segunda semana do mês de setembro, a Exposição de Lagarto atraia centenas de expositores do estado e de além-fronteiras, sem falar nos milhares de visitantes que a cada dia superlotavam as dependências do Parque Nicolau Almeida – local que atualmente abriga o evento.

Muitos iam à exposição fechar negócios; milhares de pessoas a visitava para apreciar os bovinos, ovinos, caprinos, eqüinos e produtos agrícolas expostos; uma parcela significativa de pessoas da cidade e da região para lá se dirigia à noite, para assistir shows do cantor(a) que no momento estivesse em maior evidência no cenário artístico nacional. 

O melhor da raça bovina comparece à Exposição
Na semana que durava a Exposição Feira de Animais (e que precedia a realização da Festa da Vaquejada), Lagarto vivia seus dias de mais movimento, haja vista o número de visitantes que se somava à população local, para juntos invadirem o comércio da cidade, contribuindo assim para dar muito mais dinamismo à economia do município.

Nos dias do evento, jovens, adolescentes ou adultos só se sentiam felizes se desfilassem na Exposição com o traje mais caro que pudesse comprar - no limite extremo das posses de cada um. Sendo assim, as noites de Exposição eram tomadas pelo brilho e pelo luxo das pessoas que se sentiam inebriadas em ver, serem vistas ou simplesmente se divertirem de alguma forma.

COMO TUDO TEVE INÍCIO

O evento que inaugurou uma das maiores tradições do nosso município, a Exposição Feira de Animais, aconteceu em 1964, e Lagarto tinha como prefeito o Sr. Rosendo Ribeiro Filho (Ribeirinho). A primeira feira funcionou onde hoje é a Praça do Rosário. O primeiro evento que teve caráter oficial aconteceu onde hoje funciona um posto de gasolina, em frente à feira livre de nossa cidade, e ao lado do "Tanque Grande". Esse espaço foi doado pela prefeitura municipal, atendendo assim a uma solicitação do fazendeiro Martinho Almeida, que foi quem teve a ideia para montagem da feira agropecuária.
De óculos preto, Martinho Almemeida desfila pela praça da matriz
 Nesse período, a economia lagartense tinha como destaque o setor agrícola. A terra era muito melhor dividida do que nos dias atuais - o que significava um maior número de agricultores e pecuaristas em condições de garantir dinamismo aos negócios feitos na região. Essa primeira exposição oficial contribuiu para o desenvolvimento da pecuária e do comércio local. Ao longo do tempo a exposição foi ganhando fisionomia de feira livre, e cada fazendeiro trazia 20, 30 e até 50 cabeças de gado para comercializar, garantindo assim a renda que movimentava e dava fôlego ao comércio.

Essa exposição teve a participação de agricultores e pecuaristas não apenas local, mais também de municípios circunvizinhos. Não obstante, o evento em questão serviu para projetar o nome de Martinho Almeida além-fronteiras. Nascido em 1914, casado e pai de 11 filhos, Martinho Almeida, após idealizar e participar com sucesso do evento que teve lugar na cidade em que nasceu, ousou voo mais alto, participando de uma outra exposição agropecuária, agora realizada na cidade mineira de Uberaba. Nessa exposição, Martinho Almeida viu seu boi “Natal” não apenas tirar o primeiro lugar, mais se transformar em objeto de cobiça de todos aqueles que consideravam ser esse o animal que melhor poderia reproduzir sua raça no Brasil.

Ribeirinho era prefeito de Lagarto - Foto: lagartemse.com.br
O contexto político dessa época apresentava algumas peculiaridades. O prefeito exercia o mandato sem perspectiva de ser substituído pelo seu vice, haja vista ser esse um cargo que não constava na composição da administração pública municipal. Foi nesse ano que eclodiu o golpe militar em nosso país. A princípio, o movimento militar recebeu o apoio das principiais lideranças do município, que enxergavam nele uma forma de pôr fim à turbulência econômica, política e social vivida pelo país. Num momento posterior, veio à baila o caráter truculento e perseguidor do regime que acabara de se instalar, o que fez com que muitas das figuras, que a princípio apoiaram o golpe de forma velada, passassem não apenas a criticá-lo, mas acabassem elas mesmas figurando como alvo das perseguições - a exemplo do que acontecia com políticos e pessoas influentes pelo país afora.

Os “anos de chumbo” não chegaram a abalar de todo a agricultura e pecuária do nosso município. Com o transcorrer dos anos, o espaço onde se realizava a exposição se mostrou acanhado, e se transformou num obstáculo ao projeto daqueles que viam no evento uma grande oportunidade para expandir seus negócios. Sendo assim, em maio de 1970 dez fazendeiros, tendo à frente Martinho Almeida, deram início à construção do parque onde até hoje funciona a exposição. O espaço recebeu o nome de Paulo Nicolau de Almeida, em homenagem ao pai de Martinho Almeida, que foi quem doou o terreno, acreditando não apenas no sonho do filho e dos amigos, mas também na importância da exposição para fomentar o progresso de Lagarto.

DECADÊNCIA

Nos dois últimos anos a Exposição Feira de Animais de Lagarto se transformou numa caricatura dos eventos realizados nos bons tempos. Aqueles que se propuseram a visitar as Exposições realizadas entre 2011 e 2014 se depararam com a própria imagem da decadência. Grande parte das baias, dos currais e pavilhões permaneceu completamente vazio. O número de animais e de produtos agrícolas expostos beirou à insignificância. As mudanças estruturais feitas no parque, como a retirada da praça central e sua substituição por barracas e outros comércios, contribuiu para descaracterizar mais ainda a festa. Os bares cobertos de lonas pretas, instalados no interior do parque, deram ao visitante a sensação de ele estar entrando numa grande favela; não na Exposição de Lagarto. E a transferência dos shows para um local fora do parque, bem como o gosto duvidoso dos artistas contratados para os espetáculos, têm contribuído mais ainda para que cada edição da Exposição se encerre deixando no ar a sensação de que aquela foi a última. 

Hoje as baias dos pavilhões permanecem vazias
 Inúmeros problemas de ordem econômica têm respaldado os discursos de todos os que se debruçam tentando entender o que se passa com a Exposição Agropecuária de Lagarto. Muitos atribuem os fracassos dos últimos anos à crise por que passa a agricultura e pecuária em todo o estado de Sergipe. Outros alegam que a EMDAGRO, que sempre esteve à frente da organização da Exposição, não consegue mais contar com a Prefeitura Municipal de Lagarto como uma parceira à altura. 

Os eqüinos sempre foram atrações na Exposição
 Seja o que for que esteja acontecendo, o fato é que a Exposição Agropecuária de Lagarto é um patrimônio que precisa ser preservado e habilmente cuidado, independente da coloração partidária do prefeito e do governador de plantão. Deixar que esse evento se acabe é atentar contra a memória social e política do nosso município; é deixar que interesses econômicos privados enterrem boa parte da história de Lagarto.

Textos e fotos: Eduardo Bastos
Foto de Martinho Almeida encontrada no Facebook Visgo da Jaca
Foto de Rosendo Ribeiro Filho (Ribeirinho) encontrada no Site lagartense

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